Tropeçavas nos astros desastrada Quase não tínhamos livros em casa E a cidade não tinha livraria Mas os livros que em nossa vida entraram São como a radiação de um corpo negro Apontando pra expansão do Universo Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso (E, sem dúvida, sobretudo o verso) É o que pode lançar mundos no mundo
Tropeçavas nos astros desastrada Sem saber que a ventura e a desventura Dessa estrada que vai do nada ao nada São livros e o luar contra a cultura
Os livros são objetos transcendentes Mas podemos amá-los do amor táctil Que votamos aos maços de cigarro Domá-los, cultivá-los em aquários Em estantes, gaiolas, em fogueiras Ou lançá-los pra fora das janelas (Talvez isso nos livre de lançarmo-nos) Ou – o que é muito pior – por odiarmo-los Podemos simplesmente escrever um: Encher de vãs palavras muitas páginas E de mais confusão as prateleiras
Tropeçavas nos astros desastrada Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas
Inicia-se hoje a Semana da Leitura e com ela iniciamos também uma série de actividades relacionadas com os livros, as leituras e os leitores.
Daniel Penac,Como um Romance
O verbo LER não suporta o imperativo. É uma aversão que compartilha com outros: o verbo “amar”… o verbo”sonhar”… É evidente que se pode sempre tentar. Vejamos: “Ama-me!” “Sonha!” “Lê!” ”Lê, já te disse, ordeno-te que leias!” -Vai para o teu quarto e lê! Resultado Nada. Ele adormeceu sobre o livro.